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Uso do feitiço em Angola 



Falar de feitiço em Angola ainda é um facto sem explicação. Feitiço é tradição usada pelos antepassado para expulsar as forças ocidentais o chamado homens brancos, e ajudar a solucionar o problemas do rei, e do povo. 



Conhecer esta palavra é fácil, de boca todos usam o termo, e na pratica sera fácil assim!... 



Hoje muitos usam este poder para manipular, destruir, até mesmo matar. Estas forças associa-se ao poder maligno que envolve no topo o anjo do pecado. O feitiço em África começa antes se J.C (Jesus Cristo) na terra dos faraós Egito. Hoje carrega um grande caminho da maldição levando jovens em caminhos cegos a fazer contrato que pode custar a sua própria vida querendo ter poder, dinheiro, vida fácil, beleza. 

Muitas mulheres são obrigados a entrar neste negocio, para ter beleza, prenderem homens, esquecendo que também ta estragando a vida de um inocente, homens querendo por ganancia egoismo vida fácil, muitos abusam até suas próprias mães, irmãs, etc, etc para conseguirem que querem por causa do maldito contrato feitiço esquecendo que Deus tá acima de tudo. Onde Faraó chegou com feitiço, Deus mostrou que ele é o superior, tudo ao seu tempo demorou mais respondeu. Até o próprio feiticeiro que prejudica teme a Deus sabe porque? Ele pode dar-te tudo mais nunca irá trazer a vida que ele tira de pessoas de volta neste mundo, mas Deus é a luz verdadeira e traz a vida ele tira a vida e se ele quer devolva-te em nome de Jesus. 

Diga-se de passagem que os homens de pele branca usam o feitiço de forma inteligente sem prejudicar se não a si próprio a chamada magia de circulo grande ilusão e animação é um dos exemplo...



Óbitos com desculpa


Por cá, nas aldeias todos “aprendem” que as mortes têm sempre um culpado: o feiticeiro. Se uma inocente criança vê a sua missão no mundo encurtada, se calhar pela crônica falta de cuidados primários de saúde no campo profundo, ou fulminada por mal pior como uma meningite ou até uma má formação congênita  logo se “descobre” que é o tio ou o avô mauzão quem acabou com a pobre vida, porque precisa de enriquecer e essa morte faz de moeda de troca no seu arranjo com os gurus da feitiçaria.    Se um jovem é mal sucedido na vida e inábil até em obrigações tão mundanas como conseguir para si uma esposa, a imaginação corre célere: há com certeza um tio feiticeiro que não quer o progresso do sobrinho. 


Se uma parturiente acaba os seus dias na hora em que se prepara para dar ao mundo um novo rebento, nesse momento tão terno e tão deslumbrante que é o nascimento de um filho, há sempre um feiticeiro por detrás da tragédia. Mas é preciso que se saiba que a mulher desenvolveu uma gravidez de risco com os seus “rijos” 45 anos de idade. A Medicina explica isso facilmente mas na aldeia, onde a Ciência vezes sem conta é trocada pela interpretação empírica e o charlatanismo puro, surge um capítulo de desavença e ódios cruzados mais uma vez ligado ao omnipresente feitiço. 



Se um aldeão cresce como empreendedor, faz mais na sua labuta que os outros, aumenta o seu rebanho de cabras ou vende mais café que os seus pares, certamente não se livra da acusação de feitiço por ter conseguido tão notável avanço de vida. Ele que reze para que não tenha o azar de perder o filho, sobrinho ou outro familiar próximo, pois de contrário, será o culpado, pois tão vigoroso enriquecimento só pode estar sustentado pela arte do feitiço que pede em troca vidas, muitas vidas… 




Feitiçaria: crenças sacrificam crianças 


Em regiões da RD Congo e Angola, numerosas crianças são agora acusadas de bruxaria e sofrem abusos e abandono. Defensores dos direitos das crianças estimam que milhares de crianças tenham sido acusadas de feitiçaria e vivam nas ruas de Kinshasa, depois de terem sido expulsas das suas casas e abandonadas pelas famílias, uma decisão muitas vezes motivada pelo facto de assim se tornar desnecessário continuar a alimentá-las ou cuidar delas. Em Angola, o fenómeno das crianças feiticeiras verifica-se entre o grupo étnico Bakongo, havendo centenas de casos reportados, principalmente nas províncias no Norte do país, Uíge e Zaire, bem como nos bairros da capital, Luanda.

Comparando o fenómeno, observa-se a mesma configuração de crise social, emergência de igrejas pentecostais e rearticulação de parentesco. A acusação de feitiçaria a crianças é mais uma das novas formas de exclusão e violência sobre a infância, como a pedofilia, abusos sexuais, tráfico de órgãos e crianças-soldados.


Para a antropóloga social brasileira Luena Pereira, da Unicamp, universidade estadual de Campinas, as acusações de feitiçaria a crianças aparecem como resultado da desestruturação familiar ocasionada pela guerra, no caso de Angola, e pela alta instabilidade política e crise económica e social na RD Congo. «As crianças são acusadas pelos seus próprios parentes ou vizinhos de manipularem forças advindas do mundo nocturno, ocasionando infortúnios como doenças, mortes, abortos e fracasso económico dos membros da família.»


Por sua vez, o antropólogo belga Filip De Boeck, da Kuleuven, universidade católica de Lovaina, destaca a «alteração da balança de poder entre gerações a partir da participação de crianças na economia informal e na exploração de diamantes» como factores importantes para a emergência das acusações.



Manipulação adulta


As crianças situam-se, na maior parte das vezes, na faixa etária entre 8 e os 13 anos, não sendo incomum a acusação a crianças muito pequenas, inclusive bebés. Comportamentos considerados desviantes de crianças e adolescentes, como agressividade, indolência, inquietude e dispersão podem justificar a acusação. Sintomas como fome excessiva, enurese nocturna (chichi na cama), sono agitado ou excessivo e doenças como epilepsia e sonambulismo também são associados a crianças feiticeiras. 

A grande maioria das crianças acusadas é órfã de um dos pais ou ambos, ou filhos de pais separados, sendo acolhidas por parentes como tios ou avós, ou vivem com padrastos ou madrastas que muito frequentemente são os responsáveis pelas acusações.


Relatórios de ONG de protecção às crianças sugerem que as acusações de feitiçaria se relacionam com a tensão que sobrecarrega famílias extensas obrigadas a acolher crianças que, pela guerra, deslocamentos, migrações ou pela emergência do HIV-sida, perderam os seus parentes directos.


No passado, não se supunha que crianças pudessem ter o poder de manipular tais forças, faltando-lhes real intenção ou discernimento para voluntariamente fazer mal a outrem. Entretanto, os jovens passaram a ser utilizados por pessoas mais velhas como intermediários para fazer o mal. A presumida inocência ou irresponsabilidade dos menores permite esta manipulação.


Muitas crianças acreditam que são mesmo feiticeiras, uma crendice que é reforçada pela acção das igrejas pentecostais que se têm multiplicado na África Subsariana e que apresentam e denunciam crianças e as submetem a exorcismos. Filip De Boeck ressalva que as igrejas pentecostais na RD Congo «não fazem elas próprias as acusações de feitiçaria, mas apenas sancionam e legitimam as acusações saídas do espaço doméstico».


Segundo a investigação de Luena Pereira, publicada na revista «Religião & Sociedade» do ISER, instituto de estudos da religião, o feitiço é transmitido através da oferta de comida por um adulto à criança durante o dia. À noite, este adulto voltaria em sonhos a fim de cobrar a dádiva. A criança vê-se assim envolvida num circuito de reciprocidade maldita, tendo de pagar o que recebeu do feiticeiro oferecendo a vida de um parente seu. Assim, a criança torna-se também feiticeira e, sob o comando de um adulto, adquire poderes apenas acessíveis no mundo nocturno.




Milhares em Kinshasa


Na capital da RD Congo, o décimo país do mundo com menor índice de desenvolvimento humano, segundo dados da UNDP, programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, concentram-se entre 10 mil e 40 mil «shegue», crianças vagabundas e feiticeiras.

Para acolhê-las e tentar reinseri-las nos núcleos familiares originais, os padres da Congregação os Servos da Caridade construíram vários centros de hospitalidade e recuperação.

O padre Santiago Antón coordena o trabalho de quatro institutos em Kinshasa, onde cerca de 250 crianças recebem alojamento, alimentação, vestuário, aulas e acompanhamento médico. Em declarações à revista «30Giorni», Santiago Antón revela que «depois de algum tempo, consegue-se levar de volta para casa mais ou menos metade das crianças que encontramos», para referir que «na tradição rural congolesa, a criança é respeitada e, em condições normais, nunca seria abandonada à própria sorte. Na realidade, é uma maneira de se verem livres de mais uma boca a alimentar», aponta. O sacerdote denuncia ainda a prática da oração colectiva por seitas religiosas que oferecem efeitos anestésicos, em troca de dinheiro e poder. «É uma oração desligada da realidade com o objectivo de fazer esquecer a realidade. Quando se apresenta um problema, as pessoas não o enfrentam, procuram apagá-lo do horizonte inventando uma origem negativa, a criança feiticeira, e tentando eliminá-la. Quem administra esse sistema ganha dinheiro e poder praticando o exorcismo», denuncia.

Em 2003, centenas de jovens foram expulsos de casa em Mbuji-Mayi, uma cidade mineira, acusados de rogar uma praga que fez cair o preço dos diamantes. Actualmente, a maior parte dessas crianças vive em Matete, um dos bairros mais populosos de Kinshasa. De noite dormem nas bancas dos mercados, parques públicos e estação ferroviária. Para eles, a vida nas ruas é liberdade, depois das experiências traumáticas que tiveram com as suas famílias. A vida é dura, caracterizada por insegurança, relações sexuais forçadas, abusos, prostituição, drogas, maus tratos e injúrias. Um exército de rua que não fazia parte da realidade cultural do ex-Zaire, e que se desenvolveu com o início da desintegração do regime de Mobutu Sese Seko.


Rede de protecção


As autoridades do Norte de Angola identificaram quatro centenas de crianças de rua que foram abandonadas ou sofreram abusos depois de serem acusadas de bruxaria. Um relatório do INAC, Instituto Angolano da Criança, descreve o número de crianças acusadas de feitiçaria no país como «imenso». A noção de crianças feiticeiras não é novidade na região, uma vez que se trata de uma crença comum na etnia bantu, dominante em Angola.

Os funcionários do Governo atribuem o aumento no número de crianças perseguidas às três décadas de guerra e aos problemas na RD Congo. Os conflitos na região deixaram muitos órfãos, e fizeram que muitas famílias enfrentem dificuldades para se sustentar. «A situação das crianças feiticeiras surgiu quando os pais se tornaram incapazes de cuidar das suas famílias», justifica ao diário norte-americano «The New York Times» a responsável pelo INAC. «Por isso, eles começaram a procurar qualquer justificação para expulsar as crianças da família», esclarece Ana Silva.

Desde 2000, o Governo angolano vem desenvolvendo uma campanha para negar as lendas das crianças feiticeiras, mas a eficácia tem sido mínima. «Não conseguimos mudar a crença de que as bruxas existem», lamenta Ana Silva, para adiantar que «até mesmo os trabalhadores de organizações assistenciais acreditam que as bruxas existem». Por isso, o INAC tenta ensinar às pessoas que ocupam cargos oficiais que a violência contra as crianças é indefensável.

No início da década, na cidade angolana de Mbanza Congo, junto à fronteira com a RD Congo, depois de uma criança ter sido acusada de bruxaria e morta a facadas, funcionários da província e da Save the Children recolheram 432 crianças de rua e promoveram a reunião de 380 delas com os seus familiares.

Em consequência, igrejas fundamentalistas foram fechadas devido a denúncias de abusos contra crianças. Oito pastores congoleses foram deportados de Angola e várias aldeias formaram comissões para fiscalizar o respeito pelos direitos das crianças. As igrejas «proféticas» e «africanas» são acusadas de tratamento indigno, submetendo os menores a reclusão, jejuns e medicamentação.


Acolhimento de bruxas


Em 2003, uma parceria do INAC com a Save the Children e Christian Children Fund implantou uma rede de protecção da criança, na qual participaram agentes comunitários responsáveis por prevenir, detectar e resolver localmente casos de crianças acusadas de feitiçaria ou submetidas à violência, através de aconselhamentos às famílias e comunidades locais.

Já no Uíge, a perseguição às crianças está em ascensão. Na região, trata-se de «uma ocorrência muito comum nas aldeias. Sabemos que algumas crianças foram mortas», revela o bispo Emilio Sumbelelo, da Igreja Católica de São José.

A Igreja gere o único abrigo da aldeia para as crianças que são vítimas de perseguições como supostas bruxas. Num reduzido espaço, três dezenas de rapazes foram acolhidos. «Chegam muitas crianças em busca de protecção, mas infelizmente não dispomos de mais espaço», diz Emilio Sumbelelo. «Até agora, ainda não descobrimos maneira de combater este problema», lamenta o bispo.

Próximo da capital Luanda, cerca de 40 crianças angolanas, acusadas de serem feiticeiras, foram retiradas pela Polícia Nacional de duas igrejas ilegais em Sambizanga, onde se encontravam para serem curadas do mal. Os líderes religiosos das igrejas foram detidos na operação de resgate dos menores. Segundo o administrador municipal de Sambizanga, Tavares Ferreira, as crianças, com idades entre um e 15 anos, encontravam-se presas em duas casas que serviam de igrejas. «As crianças sofreram maus-tratos e foram castigadas», disse Tavares Ferreira. «O mais chocante é que foram os próprios pais que levaram os filhos para estas igrejas. Há crianças que estão nesses locais há mais de um ano e temos a informação de que aos fins-de-semana chegam a aparecer nessas igrejas cerca de 500 crianças», frisa.

Tanto o Governo angolano como as organizações da sociedade civil e as Igrejas, com destaque para Católica, têm apostado no combate a estas práticas por meio de campanhas de sensibilização, criação de centros de acolhimento e ainda na perseguição aos autores desses crimes.


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